Luiz-Olyntho Telles da Silva Psicanalista

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O filho eterno
Cristovão Tezza
Rio de janeiro, Record, 9ª ed., 2010, 222p
.
Comentários de
Luiz-Olyntho Telles da Silva

Muita gente anda no mundo sem saber para quê: vivem, porque veem os outros viverem. Alguns aprendem à sua custa, quase sempre já tarde pra um proveito melhor. Eu sou desses.
(J. SIMÕES LOPES NETO, Artigos de fé do gaucho.)


O filho eterno é um romance de amor, de amor e gratidão. O amor diz de um primeiro tempo necessário às relações, e a gratidão é um jeito de dizer que se aprendeu a lição.

Conta a história da construção de um escritor, em cujo percurso surge um filho com uma malformação conhecida hoje como síndrome de Down. As críticas a esse livro, inúmeras, de modo geral enfocam a questão da angústia gerada no pai por um filho deficiente. Pois a mim esse romance conta também como esse filho trissômico ajudou esse pai a transformar-se em um homem adulto, em um homem, pode-se dizer, com todas as letras.

A narrativa está estruturada em torno de vinte e cinco capítulos, quase tantos quantos eram os anos de vida do filho na data da publicação do livro, 2007. Supondo que o livro tenha começado a ser escrito dois anos antes, em 2005, a correspondência do número de capítulos com a idade daria a pensar em uma homenagem a quem tanto lhe ajudou a chegar onde queria.

Em um primeiro momento ficamos com a ideia de que o único personagem a ter nome próprio é justamente esse filho, Felipe, mas, ao final, depois de termos chegado à última página do expresso 222 – como um crítico batizou o romance –, vemos que não é bem assim: além dos nomes envolvidos em seu primeiro amor (penúltimo capítulo), estão também os nomes dos escritores que o ajudaram e serviram de orientação em sua rota. E não foram poucos! Muitos aparecem uma só vez, outros de modo repetido, como o de Aldous Huxley, talvez o mais reiterado de todos, seja diretamente pela menção de obras como As portas da percepção, de 1954, seja principalmente pela referência ao seu Admirável mundo novo, de 1932, no qual as pessoas são feitas em provetas. Outros são aludidos apenas pelas suas obras, como, por exemplo, entre os que reconheci, Kant, por meio de seus estudos da coisa em si (p.41), Ivan Pavlov, estudioso dos reflexos condicionados (p.45), Hergé, autor de As aventuras de Timtim, por meio de um dos seus personagens, o Capitão Haddock (p.197), e ainda outros, cujos nomes aparecem como que ao acaso, não raro em grupos, como quando se refere à mítica Alemanha dos livros que leu – Goethe, Thomas Mann, Günter Grass (p.97). Felipe, junto ao nome de seus autores favoritos, irá fazer parte, para o narrador, dos nomes-do-pai.

Goethe, a propósito, que ele cita assim, sempre en passant, tem uma obra com muitos pontos em comum a 
O filho eterno. Trata-se de Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister, o qual, se bem tenha começado a ser escrito em 1777, como peça para teatro, só foi publicado como romance por volta de 1806. Acontece esse romance ter inovado o campo da literatura, com o que passou a ser conhecido como romance de formação, o Bildungsroman. Vejam as coincidências: enquanto o personagem de O filho eterno viaja por [quase] todo o Brasil (e uma parte da Europa), o jovem Wilhelm Meister viaja por toda a Alemanha, conhecendo suas cidades e povoados, em uma época em que esse país não tinha a unificação de hoje, e sem o concurso dos TGVs. Ao contrário do personagem de Tezza, Wilhelm logo descobre que não tem vocação para artista, quer ter uma vida simples, casar e ter filhos. O auxílio para a consecussão de seus objetivos vem da sociedade da Torre, formada por nobres que observavam e ajudavam a juventude a conseguir seus ideais. Uma versão do iluminismo. Sua dedicação passa a ser, então, a educação de seu filho, batizado de Feliz. Parece com Felipe, não é mesmo? Embora Wilhelm Meister seja considerado pronto – pela Torre –, quando decide ocupar-se da educação do filho, com o pai de Felipe seu caminho em direção à maturidade começa quando ele assume a paternidade.

Mas, se quisermos classificá-lo como um romance de formação, teremos de reconhecer também outras influências e, entre elas, a mais notável há de ser a do fluxo de consciência. James Joyce, em cujo Ulisses não se encontra nenhuma referência a um personagem trissômico (p.36), como nos conta, por certo é uma marca forte sobre o autor.

Tem vinte e oito anos de idade e ainda não começou a viver. É assim que o personagem se autodescreve, ao receber a notícia de que o filho estava para chegar ao mundo. Amanhã ele seria tão novo como o filho (p.9).

Mesmo os capítulos não tendo título e não sendo numerados, os cinco primeiros passam-se ainda na maternidade. Sobressai sua preocupação com o tempo e a própria expressão do título, eterno, faz pensar em um tempo sem marcas: embora o romance se desenvolva em um tempo cronológico, no primeiro capítulo é mencionada a sensação de um tempo parado (p.14). Mas, sem dúvida, com aquele filho, ele também estaria nascendo (p.10). Durante a espera, pensa mais nele do que no filho (p.12), e há uma grande esperança. O lençol da maternidade é azul (p.11), o banco onde se assenta para esperar é azul (p.13), o bonequinho colocado na porta do quarto, no hospital, é azul (pp.24, 39), o céu é maravilhosamente azul (pp.36, 72, 79), a capa do livro de orientação para pais de mongoloides é azul (p.67), o prédio da clínica tem linhas azuis (p.81), e, na fotografia, o macacão da criança é azul (p.129). Assim como hoje se classificam os capítulos do Ulisses, de Joyce, pelas cores, podemos dizer que 
O filho eterno é azul.

Esse azul há de ser da mesma tonalidade das montanhas suíças, nas cercanias de Davos, onde Thomas Mann começou a escrever sua Montanha mágica. Nesse romance, Der Zauberberg, de 1924, também um romance de formação, um bildungsroman, no qual a subjetividade do tempo é um dos temas mais importantes, o personagem central, Hans Castorp, passa igualmente os primeiros cinco capítulos em um sanatório.

Felipe nasce em um 3 de novembro de 1980. Era primavera, era O filho da primavera, como dizia seu primeiro poema realmente bom, composto um mês antes (p.12), mas ainda na primavera.

Mocinho, eu também pintei um quadro e batizei-o de Quando Deus fez a terra com certeza era primavera. Anos mais tarde, deio-o de presente para minha filha mais velha que também nasceu na primavera. E, quando nascemos, não é sempre primavera? A etimologia de primavera deriva do latim prima, primeira, e de ver, estação, a primeira estação. Para quem nasce, chega sempre em sua primeira estação!

No presente momento, 
O filho eterno está sendo traduzido para diversos países, e, na França, por já haver um livro com esse título, um livro religioso tratando da vida de Jesus, seu título apareceu com o mesmo de seu poema: O filho da primavera. Verdade que o filho eterno faz pensar em pai eterno, uma referência comum ao nome de Deus, pai de Jesus, que com o Espírito Santo conforma uma Trindade. Os números não aparecem em vão.

Com o nascimento do filho, em um dia 3, como indica seu preciso relógio de relojoeiro, abre-se um novo tempo: fecha-se a porteira do passado, abre-se a do futuro (p.25), um tempo do qual nada se sabe. Áugure de ocasião, desconfia que o número deva conter algum segredo (p.26). Com Felipe, agora são três na família. O filho eterno é terno. Sua Majestade, Don Felipe, o terceiro, confirma o casal (p.29). Mas o 3 é também, helás, o da trissomia 21. Três por todos os lados! E seu mundo desaba. O seu primeiro poema bom, agora, ficou ridículo. Apura-se seu senso de literatura (p.44).

Não era esse o filho esperado. Nem o poema. Se ele já estava autorizado a não aceitar o filho, por Rousseau (p.20), que havia deixado em um orfanato os cinco filhos tidos com sua amante parisiense, e mesmo pelo velho Kennedy que escondeu do mundo, a vida inteira, um filho retardado (p.45), a ideia de que a criança poderia morrer logo tranquilizava-o secretamente (p.39). Igor Stravinsky, na sua Sagração da Primavera (p.128), tomando a máscara do primitivo e do bárbaro, fala da imolação de uma jovem ao Deus da Primavera para haver boas colheitas, criando uma obra inovadora e abrindo as portas da música ao modernismo. Sempre é possível fazer algo com o que não dá certo! Abrir as entranhas de alguém, com um punhal, para daí arrancar um futuro (p.29), para ele agora é só uma metáfora. E ele passa a observar atenta e cuidadosamente a criança, aliás muito saudável para alguém com aquela folha corrida (p.39). Se de um lado está a esperança da iminente morte salvadora, de outro começa a formar-se um laço. Afinal, qual cristão não nasce com uma pesada folha corrida, plena de pecados a serem redimidos pelo batismo?

As coisas não são nada em si mesmas, é preciso que alguém diga como as coisas são (p.41) e, surgida a hipótese de um erro de diagnóstico (p.47), começa ele mesmo a interessar-se pelo assunto. De seu descobridor, John Langdon Haydon Down (p.42), passando por Jerôme Lejeune (p.48) que estabeleceu a relação da síndrome como a trissomia do cromossomo 21, e mesmo Newton Freire-Maia (p.54) que estudou, em Curitiba, os efeitos genéticos de casamentos consanguíneos.

Mas não! Em sua investigação de um possível erro, atravessa ainda a suspeita de uma cardiopatia inexistente, mas o diagnóstico de trissomia se confirma (p.65).

Estreita-se o laço entre pai e filho. Há que fazer algo. Começa a estudar Jean Piaget, porém sob a luz esdrúxula da obra-prima de Horace McKoy (p.68), Mas não se matam cavalos? (They Shoot Horses, Don't They?) A referência é a exaustão! Acostumado a ver-se sempre como em um cartum, vê-se agora como um personagem de A noite dos desesperados – como o livro foi alguma vez traduzido ao português, e como nos mostrou Sydney Pollack, no filme homônimo de 1969. Nesta história, passada na década de 30, os anos da depressão americana, um absurdo concurso de dança premiará o casal que conseguir dançar continuadamente por mais tempo, mesmo que isso leve o vencedor à morte. Aqui, ele já percebe, mas ainda não sabe, todo o esforço que terá de fazer para ajudar seu filho a sair do atraso constitucional. Contudo, entra na dança. Ambivalente, o contraponto ao esforço exaustivo, é a imagem de Jeca Tatu, de Monteiro Lobato (p.69), muito possívelmente apoiado no Caipira picando fumo, de Almeida Junior. Tomada a decisão de ajudar o filho, o pai começa a se sentir melhor (p.89). Afinal, a maioria esmagadora dos homens sofre de retardo emocional (p.74).

O tempo, que marcou tanto A montanha mágica, de Thomas Mann, o único livro que ele imagina o filho lendo (p.107), recebe agora, em 
O filho eterno, a marca da aposterioridade. De um ângulo, temos o tempo cronológico, linear, e de outro o tempo lógico. O tempo de compreender, necessário ao momento de concluir, nem sempre dura o instante de ver! Algumas coisas da vida não chegamos nunca a compreender, e a maioria das que alcançamos alguma compreensão só o fazemos depois, après coup, como dizia Lacan resgatando o conceito freudiano de nachträglich. O autor implícito começa sua denúncia da importância desse tempo ao referir o descompasso (p.15) entre os sonhos do personagem, quando faz referência a Rudyard Kipling. Diria que o personagem tem em mente seu conhecido poema Se – em inglês, If. É como se, nesse tempo, ainda não soubesse que questões com se só obtêm respostas com se. Depois, ele continua, quando aparece sua dificuldade em lidar com os afetos, ainda sem reconhecer isso, engana-se pensando que frente ao ridículo do amor é sempre mais interessante a delicadeza do humor (p.23). Só reconhecerá esse engano muito mais tarde, quando, confrontado aos amores do filho, confessar, qual Epimeteu, o cretense, com uma mentira: Comigo o amor também chegou antes do sexo (p.203). O próprio efeito da vida do filho em sua vida, ele, ao receber o impacto, ainda não sabe (p.44). Ao assumir a necessidade da dedicação ao filho, ele ainda não sabe, é que começa a delinear-se para ele a ideia do que é um filho (p.68), ideia essa, digamos a verdade, que nunca se delineia completamente para muitos pais. O sentimento de estar perdido, experimentado, em algum momento, por todos os pais, frente aos impasses oferecidos pelo tempo da educação dos filhos, também reconhece só depois, contudo, e isto, mesmo sem saber, de algum modo já teria de reconhecer: se o problema é o filho, ele, o pai, estará perdido (p.69). Logo aprenderá, então, a importância da síndrome dos pais com filho lesado (p.84). As diferenças, formadoras do conjunto, ele tem de enfrentá-las, como todos, sem saber ainda bem do que se trata (p.84). Os exaustivos exercícios para corrigir e estabelecer posturas servem, tão bem como qualquer outro recurso - ele se dá conta -, para a alienação do pai. De um lado, quer que a criança trissômica conquiste o lugar de filho, mas, por outro, ainda não sabe o que é exatamente um  filho (p.95). Durante um bom período da vida, o tempo, divagará anos depois,  é só a marcação do calendário (p.98). Ele ainda não sabe que cada um tem o direito a uma interpretação própria do tempo. Ao Papa São Silvestre I, do século IV, por exemplo, atribui-se a mudança dos nomes dos dias da semana, de uma referência astronômica, para uma referência cristã, embora haja também quem diga terem sido mudados esses nomes por influência de Martinho de Braga, um bispo da Panônia (onde hoje é a Hungria), dois séculos depois, que considerava indigno de bons cristãos continuar chamando os dias da semana por nomes pagãos. Era preciso homenagear os filhos da igreja, a freguesia (filiu ecclesiae) que a frequentava, desde a primeira feira – que depois passou a se chamar domingo –, até a sexta-feira (p.92). Mas quando escreve seu livro, ele não sabe, de fato, o que está escrevendo (p.101). Se, no momento, preocupa-se em levar o filho a um nível de normalidade, anos depois pensará que quem precisa mesmo de normalidade é o pai (p.127). E então, na metade do livro, surge um momento em que descobre que é fácil ser altruísta quando os filhos ajudam, e quando lhe vem na boca o gosto de fel do ressentimento, ele já sabe o que é isso (p.128). Como descobrirá dez anos mais tarde, o tempo [em si] é um presente absoluto (p.130). Não por nada, nesse momento, lembra o nome dado à sua Relojoaria, em Antonina, CINCO EM PONTO, sua homenagem a García Lorca (p.131). Neste poema – Ás cinco horas da tarde –, Lorca fala da morte chegando às cinco da tarde, em ponto. A morte chega sempre na hora certa. O touro já rasgou a cocha do toureiro e a morte já botou seus ovos na ferida. A morte chega sempre em ponto. Chega, e ponto. O tempo já era. E começa um outro tempo! Mas as coisas não são de uma vez para sempre, e chega o momento do reconhecimento de que se as coisas não dão certo, mediadas por uma sucessão de incompetências, na verdade é porque não é aquilo que se queria, coisa que, se o personagem não sabe, sua alma já sabe (p.144). Faz lembrar o estudo de Freud sobre a negação (1925). Freud, a quem mais ou menos denega (p.91) e diz conhecer apenas cacos (p.189), viu na negação uma forma particular de repressão em que o reprimido aparece simultâneamente em dois espaços topológicos: no inconsciente, que o sujeito não conhece, e no consciente, que ele conhece, porém sob a forma de negação. Freud exemplifica com a frase de um analisante: O senhor me pergunta quem pode ser a pessoa do sonho? Pois eu lhe digo, não é minha mãe. Em O filho eterno o autor diz da importância deste tempo posterior falando do que antes o personagem não sabia. Mas o conhecimento é uma terra prometida. Como Moisés, nós chegamos às suas portas. Disse-o Huxley, disse-o William Blake: Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito. Ele reconhece que o filho desenha, que tem um traço original, mas ainda não tem a dimensão da autoria (p.166). Afinal, quantos séculos, milênios mesmo, foram precisos até que Jean Van Eyck assinasse seu nome na tela d’O casal Arnolfini?

Como diz Piaget, para perceber alguma coisa, é preciso ter uma referência anterior. E um dia ele descobre que não tem mais tempo (p.115). O nascimento da tragédia, de Nietzsche, faz-se ouvir. Se um dia viu-se como um personagem otimista de Voltaire, como um Professor Pangloss (p.37), para quem tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis, agora ele ouve pela primeira vez rodar a engrenagem poderosa do tempo. Das fantasias que lhe ajudavam a sobreviver por alguns dias (p.48, passim), defende-se com as ideias de Leibniz: um dia tudo estará bem, eis nossa esperança; tudo está bem hoje, eis nossa ilusão. Verdade que nessa época nasce seu segundo filho, uma menina, mas verdade também que, distraído, registra o nome da rua em que morava: Luiz Delfino. Poeta medíocre (p.114), diz ele. Registre-se, contudo, que esse poeta medíocre, médico e senador da República, foi por muitos considerado o segundo melhor poeta do estado de Santa Catarina (onde também nasceu o autor), atrás apenas de Cruz e Souza. Publicou seus poemas parnasianos, de rima perfeita, nos principais jornais de sua época e foi considerado pelos contemporâneos como Príncipe dos Poetas. Quando seu filho reuniu sua obra, encontrou mais de mil poemas. Mais que um nome de rua, Luiz Delfino constituiu para esse pai, cujo filho nunca leria seus livros, uma tomada de posição frente ao tempo: era preciso fazer por si.

Se um dia se meteu em um derbi mckoyano, ainda que já desconfiado de que se o problema é o filho, ele, o pai, estará perdido, mas ainda alienado à solução, às regras oferecidas pelo outro (p.69), chega um momento quando, mediado pelo interesse sexual de Felipe, ele, o pai, dá-se conta de uma impossibilidade metafísica, e reconhece: o meu filho não é uma criança normal, e cada dia que eu mantiver na cabeça essa normalidade, uma sombra que seja, como modelo e referência, eu serei infeliz, muito mais do que ele próprio conseguiria ser; para meu filho, esse quadro de valor é radicalmente inexistente. Eu sou o problema (p.199). Enquanto não se reconhece como sendo o problema, mantém-se a interminável corrida de cavalos (p.152), e o menino, bom na natação, também tem que aprender as regras dessa corrida perpétua, tudo em nome da grande Vitória Final (p.153). É só depois desse reconhecimento que pode aceitar o ritmo do filho: quando Felipe não quer mais ser confundido com criança (p.191), isso é uma coisa que só poderá encontrar seu sentido no universo próprio de seu filho, e não no dele, que então já não tem mais por que ser ele também um organizador de corrida de cavalos.

Agora, esse pai já pode dizer algo como uma vez disse Cioran, nos seu Estragos: Que tormento, mas também que alívio, quando se perdeu uma ilusão para sempre. É o tempo de amar. É possível que no seu filho a ideia de amor encontre a dimensão absoluta sonhada pelos poetas, o breve abismo fora das agruras do tempo e do espaço, prazer transcendente e comunhão universal, acompanhados da maior solidão possível (pp.109-10).

É então que surge o futebol, esse nada que preenche o mundo (p.218), essa irresistível coisa nenhuma (p.219), como referência de uma maturidade possível de Felipe. O imprevisível do resultado concorre para o conceito de futuro e é preciso estar preparado para eventuais desonestidades dos árbiros e para a frustração da derrota. Reconhecidas as diferenças dos times, de suas camisetas, há espaço ainda para reconhecer os diferentes campeonatos. Se o filho jamais vier a fazer companhia ao mundo do pai (p.221), o pai pode eventualmente fazer companhia ao mundo do filho.

Presentes o Christian e toda a patota de fanáticos, começa a partida de Atlético e Fluminense, transfigurada agora na primeira partida da Copa do Mundo. Miriam Makeba abre os festejos cantando Pata Pata, e começa a partida. Embora vá ser um jogo difícil, estão todos preparados. Vão ver o que é bom pra tosse!

Mas uma coisa é verdade, o amor vem antes do sexo (p.210).


o filho eterno  
Outros comentários:
- Silvia Maria Rocha


Fortuna crítica:
- Dulcinea Santos






































































































































































































Relação de autores para acompanhar a leitura:

Albert Camus, O homem revoltado.
Alexander Southerland Neill, Summerhill, a  liberdade sem medo.
Álvaro Cunhal, Obras escolhidas, A casa de Eulália.
Andy Warhol, (pintor).
Aristóteles, Poética.
Balzac, H., A comédia humana.
Brecht, B., A ópera dos seis vinténs.
Carlos Drummond de Andrade, José Fazendeiro do ar.
Cervantes, Don Quixote.
Charles Chaplin, Tempos modernos.
Collodi, As aventuras de Pinochio.
Conrad, J., Linha de sombra, O coração da treva.
Darwin, C., A orígem das espécies.
Dickens, C., Oliver Twist.
Dostoievski, F.M., Os irmãos Karamázovi.
Edmund Wilson, Rumo à estação Finlândia.
Ensor, James, (pintor).
Fitzgerald, F. Scott, Suave é a noite.
Freud, S., Obra completa.
Gabriel García Marques, Cem anos de solidão.
Ganhi, M., (político indiano).
Garcia Lorca, Poemas.
Geraldo Vandré, (músico)
Goethe, W., Fausto, Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister.
Graciliano Ramos, Vidas secas.
Grahan Greene,
Nosso homem em Havana.
Grimm, Irmãos, Contos infantís.
Grouxo Marx, (comediante).
Günter Grass, O tambor.
Gustavo Corção, Lições de abismo.
Hamurábi,  Código legal.
Heidegger, Ser e tempo.
Heirich Boll, O anjo silencioso.
Hemingway, Contos, Paris é uma festa.
Hergé, As aventuras de Timtim.
Hermann Hess,
Sidarta.
Horace McKoy, Mas não se matam cavalos?
Huxley, A., As portas da percepção, O Admirável mundo novo.
Ibsen, H., O inimigo do povo.
Joyce, J.,
Ulisses.
James Matthew Barrie, Peter and Wendie.
Jean Piaget, O nascimento da inteligência na criança.
Jérôme Lejeune, Avanços médicos e psicopedagógicos sobre a síndrome de Down.
Jerry Lewis (comediante).
John Langdon Haydon Down, Observations on an Ethnic Classification of Idiots.
John Steinbeck, O inverno da nossa desesperança.
Jung, K.G., Obras completas.
Kafka, F., O processo.
Karl Jaspers, Filosofia.
Karl Marx, O capital.
Lamarca, Carlos, (guerrilheiro barsileiro).
Lamarck,
Teoria da evolução.
Leibnitz, Sobre a existência.
Leonardo Da Vinci, (gênio).
Luiz Delfino, Obra completa.
Machado de Assis, Brás Cubas.
Marco Polo, O livro das maravilhas.
Mariguella, (revolucionário brasileiro)
Mendel, G., Ensaios com plantas hibridas.
Milton, O paraíso perdido.
Mirian Makeba, Pata pata.
Monteiro Lobato, Jeca Tatu, As reinações de narizinho.
Munch, pintor).
Newton Freire-Maia, (diversas publicações).
Nietzsche, F., A origem da tragédia.
Pavlov, Ivan, Os reflexos condicionados.
Peter Sellers, (comediante).
Platão, Diálogos, A república.
Rousseau, J.J., As confissões.
Rudiard Kipling, Se.
Sartre, J.P., A engrenagem.
Stravinski, I., A sagração da primavera.
Thomas Mann, A montanha mágica.
Thomas Stearn Eliot, Poemas.
Tolkien, J.R.R., O senhor dos anéis.
Van Gogh, (pintor).
Vargas Llosa, A cidade e os cães.
Vinícios de Moraes, Para viver um grande amor.
Virgilio, Eneida.
Voltaire,
Candido.
Walt Disney, (desenhista e produtor).
Wilhelm Reich, A revolução sexual.
William Blake, O matrimônio do céu e do inferno.
William Faulkner, O some a fúria.
William Shakespeare, A comédia dos erros.
William Styron, A escolha de sofia.
Wilson Galvão Rio Apa, obra completa.


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