Luiz-Olyntho Telles da Silva
Psicanalista |
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DIVIDE ET IMPERA
Luiz-Olyntho
Telles da Silva
24 de abril de 2020
O mundo, visto pelo ângulo de cada um, é sempre diverso. Frente a uma mesma paisagem, a um chamar-lhe-á a atenção as nuances do verde; a outro uma pequena casinha, entrevista em meio ao arvoredo, de onde sai uma bucólica fumacinha branca; um outro ficará embevecido com a luz do lugar; alguém, com os olhos fechados, dirá da energia do ambiente; e sempre terá aquele que não verá aí graça nenhuma, antes pelo contrário. A pluralidade de pontos de vista e de opiniões foi sempre a base de nossa riqueza cultural. Por outro lado, se, sob o efeito de experiências diferentes, cada um vê o mundo à sua maneira, na escola somos levados a vivenciar experiências comuns e assim aprendemos a tabuada, muitas vezes cantando e dançando, as regras da gramática, a biologia e a história dos feitos de nossos antepassados. Aos poucos vamos construindo uma identidade, tanto pessoal como social, fruto de nossas aprendizagens. Hoje, contudo, a diversidade de compreensão do mundo não parece tão simples. Nosso povo parece dividido em dois – apenas dois – grandes grupos. Divididos como se fossem inimigos. Não se falam e, quando o fazem, ou não discutem suas opiniões, na busca de preservar as amizades, ou então se xingam. As opiniões, isso que é o mais próprio do ser humano (porque a certeza não nos cabe), tendem a ser discutidas apenas entre os que pensam igual (como se isso fosse possível). Foi ao perceber isso, em desacordo à minha premissa, que me lembrei deste antigo ditado latino, Divide et impera. Investigando sua origem, encontrei que, a rigor, ninguém sabe de onde veio. Há quem o atribua a Filipe da Macedônia, mas as referências são incertas. Não há dúvidas, porém, quanto a tratar-se de um recurso maquiavélico para administrar o poder, pondo uns contra os outros. Prosper Mérimée atribuiu-o ao rei Luís XI, da França, que, no século XV, teria criado o slogan Diviser pour régner, Dividir para reinar, enquanto o jesuíta Thomas Fitzherbert, de origem inglesa, em seus estudos sobre Maquiavel, que viveu praticamente na mesma época de Luís XI, registrou a variante Si vis regnare divide, Se queres reinar, divide. Seja como for, estavam sempre apoiados no princípio de que os meios justificam os fins. O que não dizem é que dos fins só sabemos depois e que, para jogar uns contra os outros, tanto os uns como os outros precisam estar unidos entre si, mas cada um para o seu lado. Também encontrei que Goethe, por certo com a melhor das intenções, propôs ao apotegma uma contrapartida: Verein und leite, Une e guia. Mas talvez já fosse tarde. |
Luís XI, dito O Prudente. Para fazer sua crítica, clique aqui
Fortuna crítica:
- Dulcinea Santos: Na busca das fontes, o horizonte cultural sempre rico. No estilo, a clareza do pensamento. E a mensagem, pontual. Precisamos pensar sim nos meios maquiavélicos, que não foram compreendidos por muitos daqueles que citam O Príncipe, sem, contudo, jamais o terem lido! Sim, os fins justificam os meios, mas esses, conforme o filósofo, visam a um fim útil, que é, segundo ele, governar com mão forte, para defender a soberania da Nação. Por exemplo: diferente do que fez o Rei Lear, que se deixou levar pela bondade, pela desrazão, o Rei Henrique V - convém dizer, não estava a serviço da tirania, mas a serviço do dever -, com pulso forte, manteve seu povo unido, resguardando a soberania da Nação inglesa. Conforme bem o diz aqui: O que não dizem é que dos fins só sabemos depois e que, para jogar uns contra os outros, tanto os uns como os outros precisam estar unidos entre si, cada um para o seu lado. Excelente! (Vale ler a segunda tetralogia de Shakespeare, que refere esse assunto, com a figura magistral do inesquecível Falstaff). |