Luiz-Olyntho Telles da Silva Psicanalista

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O DICIONÁRIO DE AURELINHA*
Sobre o livro
EXPULSÃO
Hilda Simões Lopes
Rio de Janeiro
Confraria do Vento
2013
92p.

Luiz-Olyntho Telles da Silva
Senhoras e senhores, amigos presentes.

O livro de Hilda Simões Lopes - Expulsão -, aborda um tema que nos tem a todos e a cada um. Hegel nos diz que somos jogados no mundo em estado de derrelição, e a poeta Maria Carpi, por sua vez, disse dessa nossa condição em O deslugar, cujo primeiro e último terceto, mais a coda, tomarei por epígrafe:
 
O DESLUGAR

A exclusão foi-me nascimento.
Quando não mais havia lugar
nem na casa, nem na estalagem.

Nem nos logradouros. Nem à beira
dos lugares. Nem à deriva,
nas antessalas e corredores.

Lugar algum. Nem na roupa.
Nem num nome. Nem na pele
ou na lembrança da pele.

No exterior e no interior
dos lábios. No descampado
ou no confinamento dos olhos.

Nem no livre, nem no enjaulado
do coração. Nem no vazio
a preencher ou no cheio a esvaziar.
Nenhum lugar para ir, nem para voltar
ou simplesmente se acostar.
Nem nas galáxias, nem nas entranhas.

Nenhum lugar para ficar de pé,
à espera. Ou dormir, na incerteza.
Nem para morrer, nem para se banir.

Nenhum fragmento de lugar,
nem lixo, excremento, vômito
de lugar. Dejetos de lugar,

soçobros, restos mortais
de lugar. Cicatrizes de lugar.
Mortais sonhos sem lugar.

Da insuficiência do espaço,
do esmorecimento do espaço,
da sucumbência do espaço,

do total deslugar, nasci.

(MARIA CARPI, O deslugar)

Titulo esse comentário com um deuteronômio: O dicionário de Aurelinha. É uma homenagem ao conto Etiquetas, relato das aventuras de Natália, a menininha que aos três anos já reconhecia os sinais da escrita. Tomou tanto amor pelo alfabeto que já não desgrudava de nosso Aurélio, merecendo por isso o apodo.

De certo modo, ao titular cada conto com uma única palavra - ressalvada a quarta narrativa, nomeada por uma expressão também encontrada no Aurélio, sob a forma de subverbete, para caracterizar uma das marchas de um carro, a marcha a ré -, Hilda Simões Lopes também nos dá uma versão particular de seu próprio dicionário, herdeira que é de uma tradição iniciada por Diderot e D’Alembert, da qual escritores como Huxley e Flaubert também tiveram fidúcia: o primeiro por ter na Enciclopédia Britânica sua preferida fonte de informações e o segundo por ter escrito um Dicionário das ideias feitas. O léxico de Flaubert, a propósito, é uma sátira à pretensão de alguns escritores, os quais, mesmo sem terem bem compreendido a formação de certos termos da língua, já se atreveram a dicionarizá-los. Diferente, porém, de outros dicionários exóticos, como, por exemplo, o Kazar, do escritor servo-croata Milorad Pavith, que nos leva para um mundo místico de fantasias e mistérios, aqui a lexicógrafa nos conduz, com mão firme, aos penetrais de nosso próprio mundo interior. Narrados com recursos pós-modernos, os diferentes contos enfocam estes assuntos que no dia a dia tendemos a virar o rosto e dizer que não é conosco. Mas é!


Do primeiro conto, Expulsão, aproveita o título para o livro como conjunto. Todos tratam desse tema, e daí se estende por mais títulos, passando por Fios e Desvios, sempre pelo mesmo Rumo, até Desterro.

Etiquetas, colocado pela metade do livro, joga com a polissemia do verbete: é rótulo e também normas de conduta, protocolo, com uma conotação de frieza nas relações. As etiquetas colocadas na testa das pessoas servem para desvalorizá-las e ridicularizá-las. Aurelinha é a intelectual, apelido comum dado aos colegas mais estudiosos. Embora se saiba da importância política dos intelectuais em todos os governos, do ghost writer aos legisladores, o que se conhece como norma é a desvalorização dos letratti.

Mas comecemos pelo início. No conto Expulsão é preciso anotar suas pausas. É só depois de percorrer três quartos do caminho, no qual os altos e baixos da respiração são marcados, suavemente, como que pelas ondas de um calmo mar, atravessado, desde terras longínquas, até o Brasil, pela distância de oito gerações, que vamos encontrar a primeira vírgula. Tal como as bolsas formadas pelas cadeias de arrecifes, as vírgulas servem aí para demarcar os diferentes tipos de expulsões sofridas pelo derrelito, muitas vezes como resultado de não assumidas relações impensadas, vítimas apenas da carne desconhecida. É o começo do desterro.

Alertados por esse primeiro parágrafo, logo percebemos a exigência da autora: a escassa pontuação exige atenção redobrada.

Programação nos remete à ancestralidade familiar. Se você está com os olhos abertos, propõe a autora, feche-os e sinta as profundezas, perceba: o que foi, será! Enquanto as mulheres se preocupam com a alimentação, os homens se ocupam da programação mental. A natureza e a lei. As mulheres se alimentam de seus filhos! Porque a programação mental, a lei, é sempre falha, enquanto todas sonham morder as bochechas, as orelhinhas e os dedinhos de seus nenês, sempre há pelo menos uma pronta a dar de comer os próprios filhos a algum Tiestes. O selo a garantir a continuidade fantasmática aparece na sombra da magnólia, essa árvore cuja estrutura reprodutiva é primeva, conforme atestam fósseis de antigos angiospermas. Alguns botânicos sugerem terem sido essas as primeiras flores a surgir na Terra.

Agora, se Etiquetas aponta a ridicularização da intelectualidade, Papéis mostra que sua supervalorização não leva a um lugar muito diferente. Ao valorizar excessivamente a escrita você se torna dela seu escravo por supor no papel a verdade! O artifício das escalas contribui para o ar de confiança. Aqui, os súditos dos papéis primeiro são incapazes de reagir, depois não agem e, por fim, são empurrados pela vida. Parece a reação do flaubertiano Bouvard ao resultado da sua plantação de melões: ao primeiro fez uma careta, o segundo não estava melhor e o terceiro jogou pela janela. As formas do alheamento não têm fim! Talvez seja importante acreditar, como Epimênides, que todo o cretense fala a verdade só se mente.

No seu todo, os contos se interpenetram e uns servem de chave para a compreensão dos outros. Marcha a ré evidencia que a alienação pode ser também ao cônjuge. Essa talvez seja a mais dura das alienações, a que se cai por amor; nesse caso um amor construído desde o sonho do Outro, escrito assim, lacanianamente, com maiúscula, representando, o mais das vezes, a mãe. Como no cinema contemporâneo, vemos na narrativa as sucessivas imagens se alternarem. Um som, e até uma cor, pode servir como deixa para a mudança de cena. Quando o casal discute, ao diálogo interpõem-se cenas da história, como a das Moiras, as fiandeiras do conto intitulado Fios que, tal qual Cloto, Láquesis e Átropos, ficam a fiar, adobar e cortar uma densa e pesada colcha de retalhos compostos por a vida é assim mesmo, não se complique, tudo vai dar certo. Mas não! Cida, a personagem, não se submeterá! Em meio ao temporal, supondo-se limpa, lavada pela inundação, Maria Aparecida, transformando as trovoadas no triunfo dionisíaco da Aída, de Verdi, toma seu próprio carro e engrena a marcha a ré. Parece um contraponto à história de tia Angélica, contada logo adiante, capaz de transformar a alienação em perversão, e também à de Nena Daconte - evocada pela autora -, narrada por Gabriel García Marquez, em O rastro de teu sangue na neve: enquanto tia Angélica tenta tirar proveito da situação e Nena deixa-se ir, até a morte, Cida dá ré. Mas para onde?

Em Fios, as fiadas fiandeiras fiam. Como um fuso a girar na roca, a história começa devagar, parecendo seguir a indicação de Virginia Woolf: um romance deveria começar sempre com duas senhoras sentadas frente a frente, conversando. Aqui são três! O tema: a relação com as mães, a alienação dos filhos à filáucia das mães a ponto de se tornarem instrumentos do gozo do Outro. Lê-se, em Fios, um prefácio aos amores de tia Angélica.

Desvio conta essa história da angelical tia e do mulherengo tio Frederico. O modelo de sua relação é o de uma dobradura. Impossível não pensar na arte japonesa dos origamis. Qualquer seja a forma pretendida, começa-se sempre pela do Tsuru, o nosso grou, a nossa cegonha, essa ave longeva que já foi muito comum em toda a Ásia. Está ligada a ela uma fantasia de realização de desejos: se você expressar seu voto enquanto constrói o Tsuru, e o for repetindo até completar um sembazuru, que são mil Tsurus, vê-lo-á realizado. Para compreender essa possibilidade certamente ajudará seguir com a proposta da autora de enxergar desviado; pode-se ler aí um poético olhar com a imaginação, mas não deixemos de notar a presença de uma profunda subversão. Admiradora do Principezinho de Saint-Éxupery, Hilda Simões Lopes sabe que o essencial é invisível aos olhos, mas sabe também que os ditos adocicados velam figuras ameaçadoras, e os suspiros, que parecem sofrimento, podem expressar gozos - não fossem feitos com as claras sobradas de outros doces! Aquilo que se mostra aos olhos nem sempre é. Joaquim Manuel de Macedo percebeu isso e inventou, em A luneta mágica, de 1869, um tal de óculo armênio, cujas diferentes lentes permitiam ver a bondade, a maldade e o bom senso das pessoas. Vojtech Jasny colocou óculos em um gato que via as pessoas em diferentes cores correspondentes à índole de cada um. Nas pinturas seiscentistas não raro vemos duas cenas no mesmo quadro: uma terrestre e outra celeste, como na Natividade, de Botticelli, por exemplo. Era uma maneira de representar os acontecimentos mundanos como regidos em outro plano. Quando Shakespeare escreve a peça Sonho de uma noite de verão, possivelmente em homenagem ao casamento de Sir Thomas Berkeley e Elizabeth Carey, para expressar o movimento do artista entre os dois mundos, ele põe as seguintes palavras na boca de Teseu, o Duque de Atenas:

The poet's eye, in fine frenzy rolling,
Doth glance from heaven to earth, from earth to heaven;

(O olho do poeta, no rolar de um delírio superior,
Pode deslizar do céu para a terra, da terra para o céu;)
Assim a narradora - atenta às motivações inconscientes -, vê seus tios e, com rápido e preciso atravessamento de diferentes planos, descobre que as amantes dele eram encomendas dela.

A preocupação consiste em ver o real das pessoas e, para isso, seguindo os passos de Manoel de Macedo, um dos protagonistas dos contos de Hilda Simões Lopes também inventa um aparelho ótico, conforme nos conta em Banquete. Diferente da discussão platônica sobre o amor, a autora busca aqui captar imagens da vontade escondida no fundo dos silêncios. Algo de uma paranoia primitiva entra em cena. Através de um jogo de espelhos planos, côncavos e convexos, instalados em diferentes dependências de sua casa ela, sem ser vista, via as verdadeiras intenções das pessoas. É como se seguisse a recomendação do poeta Roberto Juarroz:

Levantar cada hombre
y observar mejor debajo

(Levantar cada homem
e observar melhor embaixo.)

É um conselho que tenho seguido por toda a vida. Uma vez, a propósito, aconteceu algo curioso. Imaginem que, quando isso se passou, ainda não havia ocorrido a terrível tragédia das Lojas Renner. Eu era um estudante curioso das psicologias estranhas e andava, naqueles dias, particularmente interessado nas hebefrenias, que era como a psiquiatria diagnosticava estes homens que andam pelas ruas catando lixo. Pois eu estava na esquina justamente em frente às ditas lojas, esperando abrir o sinal para atravessar a rua em direção da Renner, quando percebi, próximo a mim, um desses homens, esmolambado e mal cheiroso, com um saco nas costas, cheio de restos. Para melhor observá-lo, enquanto não abria o sinal, passei a olhá-lo, indiretamente, procurando ser discreto, através da imagem refletida na vitrine de uma loja de chapéus que havia na época. Abriu o sinal e ele continuou parado, dando-me mais tempo de observação. Reparei então que ele, de costas para mim - que também estava de costas para ele -, enquanto segurava o saco com sua mão esquerda, mantinha a mão direita sobre os olhos e, ao reparar melhor, notei que na palma dessa mão ele segurava um pequeno espelho redondo, de bolso, através do qual também me observava. Flagrado, só me restou abandonar a pesquisa e... atravessar a rua!

Nossa aparelhagem, a minha e a de meu colega, era bem simples, mas tenho de registrar que um aparelho, bem mais sofisticado, algo parecido com o do conto, fora criado na primeira metade do século passado por Henri Bouasse. Chama-se o experimento do buquê invertido:1
    
       
                   Imagem real                                        imagem virtual da imagem real

Como se vê na figura da direita, o vaso colocado de boca para baixo, à esquerda, e abrigado da vista por um anteparo, dará a impressão de que a imagem real formada pelo espelho côncavo é vista na imagem virtual refletida pelo espelho plano. Jacques Lacan, preocupado com a força da imagem especular na formação do Eu (o sujeito do desejo), dedicou mais de um seminário a essa ilusão, pois, mesmo sabendo que a visão é a percepção mais enganadora, é sempre difícil não acreditar no que nossos olhos veem.

Em alguns contos, os nomes dos personagens, retirados de diferentes autores, de per se, indicam uma narrativa pós-moderna. Em Olhos, por exemplo, Ofélia e Orestes são mãe e filho, e o tema é o da tirania edípica. Quando Édipo se reconhece incestuoso, com os brincos da mãe morta, fura os próprios olhos. Antes um cego moral, depois um cego de fato! A lei do pai - como eu serás; como eu não serás -, por sua ambiguidade, é de difícil interpretação. Nos melhores casos, se posso tomar partido, interpreta-se: como eu, terás uma mulher; como eu, não a terás. As interpretações equivocadas, helàs, não são nada raras. Orestes, o grego, não matou o pai, mas sim Egisto, o amante de sua mãe. Aqui, o filho de Ofélia, a suicida de Shakespeare, na tragédia do príncipe Hamlet, atenta contra a própria vida.

As duas tragédias centrais, Pedras e Yonna, também vêm anunciadas pelo conto precedente. Inevitável a percepção do trágico marcado pelas pétreas esculturas apolíneas. Em ambas as histórias os movimentos se alternam: a um lance de fora para dentro sucede-se outro de dentro para fora. A vida vem em ondas, como o mar, lembra-nos o mesmo poeta que nos canta o final: por cima uma lápide, por baixo escuridão! Os contos de Hilda Simões Lopes nos mostram que a pior sombra é a experiência da morte em vida, provocada pelo isolamento das pessoas. Enquanto Pedras conta a história de uma jovem nefelibata cheia de imaginação que, para crescer, como todas as crianças, precisa de uma mão, Yonna, como uma nova Julieta, mesmo reconhecendo a importância da infância como fonte de renovação, ao perder seu amado, anseia pela morte. Nota-se o cuidado da autora com a palavra amor. Embora ela a use duas vezes, no livro, quase uma hápax, é nesse conto que aparece agindo no presente, ainda que de forma breve para, em seguida, conjugá-lo no passado. Na segunda vez que a usa, em Teia, já tem um gosto de resto amargo.

Ondina é uma espécie de contraponto a Yonna. São os dois únicos contos titulados com nomes próprios. Enquanto Yonna recorre a uma miniatura de si mesma para se sentir inatingível, Ondina, nome no qual se suspeita este espírito que os antigos diziam reger o destino, ou que dominava as paixões e inspirava as artes, para imaginar-se protegida dos monstros construiu, fora de si, um ser de barro, aos moldes do Golem da Cabala. Como os amigos imaginários de muitas crianças, no transcurso dos seis, oito anos, as imagens servem para justificar o isolamento provocado pelo medo produzido pelas próprias pulsões, no conto, representadas pelas ventanias.

Grande admiradora de Clarice Lispector, Hilda Simões Lopes batiza de Sangue o conto no qual sua influência talvez seja mais forte. Seu tema: a expulsão dos avoengos. Como uma vez disse Beckett, se já não são úteis, que passem ao lixo. Aqui, aliviada de seus brilhantes, de seus quadros, de seus tapetes persas, Vovó Clara já pode ser esquecida em algum manicômio. Como em Marcha a ré, lê-se também aqui a proposta de Proust de incluir na literatura todas as outras artes.

Shakespeare nos ensina que o destino é o personagem. Rumo fala disso ao relatar o êxodo milenar, do campo para a cidade, em busca de um lugar ao sol. Ninguém chega a ser personagem, mesmo o mais singelo, sem, nesse percurso, passar pelo cheiro acre da morte. Seu exemplo mais pungente é o de Nossa Senhora do Desterro. A partir de uma pintura, possivelmente a Fuga para o Egito, de Fra Angélico, a última narrativa, Desterro, buscando estabelecer a diferença, eu diria, entre um desterro real e um desterro simbólico, oferece ao homem uma possibilidade de redenção. É como em um final de análise, quando o sujeito, tendo se percebido um entre outros e reconhecendo a importância da subjetividade, já pode navegar na plena diferença. Alcançada uma compreensão, seguindo a recomendação de Vico, já podemos recomeçar a leitura, pois o texto é circular. Como disse Freud, se a análise, por um lado, é terminável, por outro também é interminável. A compreensão é um campo onde nunca se entra de uma vez por todas.

É isso. Se tivesse seguido a orientação de Ezra Pound, eu teria me referido a esse livro apenas com uma única palavra: bom! E se tivesse que me explicar, responderia que um bom livro, como diz Virgínia Woolf, é aquele que no final nos deixa contentes e cheio de ideias. Como veem, foi o que aconteceu comigo. Mas agora, o que posso lhes dizer é isto: - leiam o livro e tirem suas próprias conclusões.
Luiz-Olyntho Telles da Silva
Psicanalista
Membro de Biblioteca Sigmund Freud
www.tellesdasilva.com
lots@uol.com.br

Porto Alegre
17/V a 12/VI, 2013

*    Apresentado na PALAVRARIA, Livros e Cafés, em 13 de junho de 2013
1
  BOUASSE, Henri [1866-1953]. Optique et photométrie dites géométriques. In Bibliothèque scientifique de l'ingénieur et du physicien, Vol. 23b. Paris, Librairie Delagrave, 1934.

Fra Angélico: Fuga para o Egito.


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